segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Sinais do tempo

Jornal de Barcelos
27 de Outubro 2010

Por Luís Manuel Cunha

Este povo não presta!

Acabava de entrar o ano de 1872. E o novo ano que chegava interrogava o ano velho. "-Fale-me agora do povo", pedia o novo ano, E o velhor: "É um boi que em Portugal se julga um animal muito livre, porque lhe não montam na anca: e o desgraçado não se lembra da canga!. "-Mas esse povo nunca se revolta?", insistia o ano novo, espantado. E respondia o velho:" "-O povo às vezes tem-se revoltado por conta alheia. Por conta própria, nunca". E uma derradeira questão:"-Em resumo, qual é a sua opinião sobre Portugal?". E a resposta lapidar do ano velho: "-Um país geralmente corrompido, em que aqueles mesmos que sofrem não se indignam por sofrer."

Este diálogo deve-se a Eça que escreveu sobre o Portugal de então: "-O povo paga e reza. Paga para ter ministros que não governam, deputados que não legislam (...) e padres que rezam contra ele. (...) Paga tudo, paga para tudo. E em recompensa, dão-lhe uma farsa." Estávamos, repito, em 1872.

Estamos obviamente a falar do povo português. Esta "raça abjecta" congenitamente incapaz de que falava Oliveira martins. Este povo cretinizado, obtuso, que se arrasta submisso, sem um lamento, sem um queixume, sem um gesto de insubmissão, tão pouco de indignação e muito menos de revolta. Um povo que se deixa conduzir passivamente por mentirosos compulsivos como Sócrates ou Passos Coelho ou por inutilidades ignorantes como Cavaco Silva, não merece mais que um gesto de comiseração e de desdém. é vê-los nas televisões, por exemplo. Filas e filas de gente acomodada, cabisbaixa, servil, absurdamente resignada, a pagar as estradas que a charlatanice dos políticos tinha jurado "que se pagavam a si mesmas"! Sem qualquer tipo de pejo e com indisfarçável escárnio, o Estado obriga-os a longas filas de espera para conseguirem comprar e pagar o aparelho que lhes vai possibilitar a única forma de pagar as portagens que essa corja de aldrabões agora no poder, se lembrou de inventar! E eles passam a noite inteira à espera, se preciso for. E lá vão depois, bovinamente, de chapéu na mão, a mendigar a senha redentora que lhes dará o "privilégio de serem esbulhados electrónicamente pelo Estado". Um povo assim não presta, não passa de uma amálgama amorfa de cobardes. Porque, se esta gentinha "os tivesse no sítio", recusar-se-ia massivamente a pagar as portagens. E isso seria o suficiente para os planos governamentais ruíssem como um castelo de cartas. Mas não. Esta gente come e cala. Leva porrada e agradece. E a escumalha de madíocres que detém o poder, rejubila e escarnece desta populaça amodorrada e crassa que paga o que eles quiserem quando e como eles o definirem. Sem um espirro de protesto, sem um acto de revolta violenta, se preciso for. Pelo contrário. Paga tudo, paga para tudo. Sem rebuço dóceis, de chapéu na maão, agradecidos e reverentes, como o poder tanto gosta. E demonstram-no publicamente, disso fazendo gala. Como eu vi, envergonhado, a imagem de um homenzinho ostentando um sorriso destentado e exibindo perante as câmaras da TV o aparelhinho que acabar de pagar, como se tivesse ganho a medalha olímpica.

Esta multidão anestesiada espelha claramente o país que somos e que, irremediavelmente, continuaremos a ser - um país estúpido, pequeno e desgraçado. O "sítio" de que falava Eça, a "piolheira" a que se referia o rei D. Carlos. "Governado" pelas palavras "sábias" de Alípio Severo, o Conde de Abranhos, essa extraordinariamente actual criação queirosiana, que reflecte bem o segredo das democracias constitucionais. Dizia o Conde: "Eu, que sou governo, fraco mais hábil, dou aparentemente a soberania ao povo. Mas como a falta de educação o mantém na imbecilidade e o adormecimente da consciência o amolece na indiferença, faço-o exercer essa soberania em meu proveito..." Nem mais. Eis aqui o segredo da governação. A ilustração perfeita com que o rei D. Carlos nos definia há mais de um século: "Um país de bananas governado por sacanas". Ontem como hoje. O verdadeiro esplendor de Portugal.

Jornal de Barcelos
27 de Outubro 2010

Por Luís Manuel Cunha

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Ensino primário manifesta

Quem me ajuda? Porque é que o ensino privado protesta?

Um obrigada já pelas respostas.

Cumps - M

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Crónica Social constipada - A arte em criar palavras em Portugal.

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Fala-se da vida de Pimpona Jardim, mostrando ao público o sítio onde ela comprou o último modelo Manolo Blahnik. Escreve-se sobre o cirurgião plástico que puxa as peles soltas das bochechas de Lili Caneças, para depois chamarem a este espectáculo, Jornalismo Social. Portugal esqueceu-se certamente do verdadeiro significado da palavra social. Quem escreve e descreve estes luxos (ou lixos?), num país onde a maioria recebe ordenados de miséria, não pode chamar a este fenómeno, social. Julgo que associal ficaria muito melhor. A meu parecer, a única razão plausível que justifica a escolha do termo  "Imprensa Social", só pode ter tido origem num mal entendido. Será que se traduziu o termo (High) Society com a palavra Social"? Alguém sabe o porquê da escolha destas palavras?

Com o termo "Constipação" também se foi muito creativo. Em todos os outros países europeus ocidentais que utilizam a palavra "constipación" ou "constipation" usam-na para expressar uma indisposiçãozinha muito específica. Enquando nós sentimos este mau estar no nariz e garganta, os outros sentem-na noutro sítio.

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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Portugal forever

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“Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.”


Guerra Junqueiro, 1896.

P.S.: Obrigado James, já procurava este texto há muito tempo. Finalmente!
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domingo, 2 de janeiro de 2011

Requisitos de uma petição

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O objectivo de uma petição reside numa proposta de mudança ou de concretização de algo pelo Estado.


Para que o Parlamento a discuta em plenário são necessárias 4 mil assinaturas mas bastam apenas mil para que ela seja publicada pela Assembleia da República. É um direito universal, consagrado pela Constituição Portuguesa, e regulamentado pela lei, que pode ser exercido por qualquer pessoa a partir do próximo dia 12 em todas as delegações e na sede do Correio da Manhã.
E já agora aproveito outra vez para chamar a atenção desta petição. E aqui podes assinar. Peço aos amigos e visitantes deste espaço, que ainda não assinaram, que participem e divulguem. Obrigada!
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sábado, 1 de janeiro de 2011

Homens honestos

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Esta canalhada só é honesta quando está na oposição!! Se fossem eles a mandar o panorama era o mesmo, só com pinturas de fundo diferentes. Portugal estás desgraçado.

Sou apartidária, ando farta destes gatunos "de todas as cores". O único objectivo é roubar o otario. A mim já não me roubam há muito, e nunca me irao roubar. Os únicos neste mundo capazes de me tirarem a última migalha da boca são os meus filhos, e nunca chulos como os políticos portugueses. A unidade que mede a qualidade do trabalho de um político é a qualidade de vida do cidadão, e não os privilégios que para si açambarcam - pelos vistos eles são péssimos profissionais. Ide cavar batatas.

Canalhas!

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O melhor possível para 2011

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