domingo, 7 de março de 2010

O Senhor Doutor no Portugal dos pequeninos

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Ora bem, hoje é domingo, o dia está lindo, mais bonito do que as previsões anunciadas, o sol invade a minha casa, o céu não podia estar mais azul e o branco da neve sobre os parapeitos das minhas janelas tornam este dia perfeito. Como auge desta abunda harmonia, adoço o meu dia com a minha música preferida. Condições perfeitas para cumprir promessas!

A primeira vez que me confrontei com a palavra doutor/a em Portugal, para além dos consultórios de médicos e hospitais, foi quando mudei da escola primária para o ciclo preparatório. Com o exame da quarta classe deixei uma quantidade de coisas desagradáveis atrás de mim. As réguadas e as orelhas de burro eram relíquas que não passavam de ano. Esta nova escola trouxe-me umas determinadas liberdades e muitas coisas novas. Mudávamos de sala de hora a hora, para cada disciplina tínhamos uma professora ou professor diferente. O que mais me agradou no novo sistema foi o facto de termos aulas de ginástica e de não estarmos mais sujeitos a agressões físicas. No início deste ano lectivo tive o privilégio de aprender quase todos os dias novos termos: os professores faziam parte do corpo docente, propinas, godés, guaches, tinta da china, linoleo etc. etc. etc., mas a palavras que mais me impressionaram foram "cetôra" e "cetôr". Os professores a partir do ciclo preparatório já não eram professores mas sim "cetôres". Precisei de algum tempo para perceber o que é que dizia quando expressava esta palavra. Na altura até achei-me muito chique - "eu, apartir de então só lidava com doutores". Havia doutores para tudo. Doutores de educação física, doutores de trabalhos manuais, doutores de francês com curso da Alliance Française, doutores de português e assim por diante.

Entretanto cresci e cheguei à conclusão que quem usa títulos sem ter feito nada para os ter, não é chique, é simplesmente um grande cagão. Portugal sofre duma inflação de doutores. Em Portugal não há respeito nenhum por pessoas que pratiquem profissõoes indispensáveis como pedreiros, electricistas, padeiros, motoristas etc. Quem desempenha estas profissões, fá-lo porque não teve outra oportunidade, em geral aprederam a porfissão na base do "learning by dooing" e os resultados veêm-se quando a obra termina. Quem é que quer ser trolha? Como é possível dar um nome destes a uma profissão tão importante como a do pedreiro?

Eu conheci um escultor português que fazia questão em ser tratado por Senhor Doutor. Sr. Doutor de quê? Doutor das Artes? Que ridículo! Um artista não precisa de ser doutor! Há que ter-se uma alma muito pequena para necessitar-se duma prótese tão grande. 

Que sejam punidos todos os que usem títulos académicos sem que tenham feito por exemplo o doutoramento. Quem fosse apanhado a infringir a lei, devia ser punido com uma multa ou seria obrigado a ser fotografado com um enorme par de orelhas de burro com foto publicada na primeira página do correio da manhã ou no diário da República.



Uma foto que fiz duma varanda dum prédio numa avenida do Porto. Certamente planeada também por um desses muitos doutores que povoam Portugal. Este edifício tinha aprox. 6 andares e a coluna começava no rés-do-chão e terminava no tecto da última varanda. Todas as portas das varandas tinham uma coluna mesmo em frente - decoração ou azelhão?
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3 comentários:

  1. Reparei num novo/a seguidor no meu blog e vim ver de quem se tratava e retribuir.
    Faço-o com muito gosto e vou linkar para acompanhar.
    Quanto aos doutores não podia estar mais de acordo ! Não tiraria nem acrescentaria uma vírgula. É simplesmente deprimente !
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  2. Excelente! Magistral, mesmo. Estas doutorices só cá em Portugal. Os outros píses até gozam!
    Provavelmente não irá ver este comentário,mas cheguei cá através do Doce ou Travessura

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  3. Obrigado Tio do Algarve pela visita. Eu por acaso ontem arranjei "um sistema" para dar conta quando alguém comenta um post mais antigo! Vou visitá-lo agora também. Cumps - Marota

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