segunda-feira, 10 de maio de 2010

Pouco para viver e demais para morrer

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O restaurante em que comi o delicioso chichárro grelhado não tinha mais de 30 m² e o que mais me chamou à atenção foi o facto de num espaço tão limitado, trabalharem pelo menos 6 homens adultos, certamente pais de família - e isto sem contar com o pessoal da cozinha. Não conheço nenhum Restaurante fora de Portugal que mantenha tanto pessoal como nos restaurantes portugueses. Em restaurantes desta categoria, trabalham em geral estudantes ou pessoas que exerçam este trabalho só em sistema de part-time; por exemplo jovens donas-de-casa, que para melhorarem o orçamento doméstico, fazem aqui umas horas extraordinárias. Na Alemanha, por exemplo, nenhum proprietário de restaurante pode dar-se ao luxo em manter tanto pessoal como é hábito em Portugal. Só em países como Portugal e terras do terceiro mundo, onde a injustiça social é grave, é possivel esta exploração. É triste ver homens no auge da sua idade, cheios de força física e/ou intelectual, serem explorados desta forma tão indigna - isto é o que aqui na Alemanha se chama "Resourcen vergeuden" - em português: "Desperdício de recursos". Deve ser muito frustante para estas pessoas, estarem sujeitas a estes ordenados de miséria e não terem outra oportunidade a não ser, aceitarem este humilhante destino: andar a servir "bandejinhas de arroz ou de batata" de mesa em mesa para ganhar um ordenado que para viver não chega e para morrer é demais.

"... os portugueses comuns (os que têm trabalho) ganham cerca de metade (55%) do que se ganha na zona euro, mas os nossos gestores recebem, em média:

- mais 32% do que os americanos;
- mais 22,5% do que os franceses;
- mais 55 % do que os finlandeses;
- mais 56,5% do que os suecos"

(dados de Manuel António Pina, Jornal de Notícias, 24/10/09)

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5 comentários:

  1. Olá. Acredito que seja jovem, pela maneira como se expressa neste post. Servir às mesas, não é desprimor para ninguém. Se existem lugares onde nos sentamos à espera que nos seja servida uma refeição, alguém a tem de elaborar e alguém a tem de transportar até à nossa mesa. Esse facto não faz de nós capitalistas desenfreados. Afinal ambas gostamos de chicharro grelhado...
    Por isso acontecer, não posso considerar que seja um trabalho escravo. Pode ser mal pago, mas depende das estrelas do restaurante :) logo da qualificação do atendedor. Se nós pagamos uma refeição ligeira por, digamos, 8.50€, depois de retirados os encargos, quanto destes são lucro? E patrões precisam-se.
    E depois, a maioria dos servidores à mesa pertencem ao grupo do trabalho precário, sem descontos, sem contratos, umas horitas para ganhar uns euros limpinhos. E outra coisa. A gorgeta é ainda um modo que o patrão conta para pagar menos. Afinal o empregado está a aumentar a diária que leva para casa.
    Sempre houve estudantes que lavaram louça para obterem uns tostões. Haverá donas de casa que fazem o mesmo? Óptimo. É preciso trabalhar para ganhar o sustento.
    A Alemanha é um País onde se trabalha quantas horas por dia, já agora, gostava de saber.
    Estou indignada, também, com os auferimentos dos gestores, há muito tempo. Sem responsabilidades pedidas quando a coisa dá para o torto. A Gestão foi um curso que se inventou para aligeirar os pesados Económico-Financeiros. E olhe que expressões como «desperdício de recursos» é da autoria deles. A falta de oportunidade para mostrarmos as nossas capacidades e competências é enorme. Estamos num tempo em que vem ao de cima a procura de mais e mais simples meios para sobreviver. Há os que pedem ... e levam quantias razoáveis. Escolhas.
    Tenho uma sobrinha com «canudo» que prefere trabalhar como caixa numa farmácia a ganhar 18.00 € por dia, de 2ª a sábado, com uma manhã livre na semana, 8 horas por dia, do que ficar na cama a ganhar o mesmo atribuído pelo Desemprego. Só a posso louvar.
    Muitos se indignam, mas muitos safam-se.
    E pronto. Se me alonguei foi sem querer.
    Continuo na esperança de degustar um dia um chicarro dos seus :).
    Tenha um bom dia e fique bem.

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  2. Ainda bem que nesse restaurante de 30 m2 tinha 6 pessoas a servir à mesa. Pelo menos dá emprego. Ganha-se menos que na Alemanha é verdade, mas essas pessoas estão a trabalhar e a lutar cá. Voçê foi para a Alemanha porquê? Porque não ficou cá a lutar por si e pelos interesses dos trabalhadores portugueses?
    Desculpe que lhe diga, mas voçê parece daqueles treinadores de sofá!

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  3. Estimada Guida, em primeiro lugar quero agradecer por ter passado por aqui e por ter comentado o meu post. Antes de mais, quero que saiba que eu não tenho problema algum em por as minhas mãos seja no trabalho que seja. Eu também já servi às mesas, e farei novamente se necessitar. Eu refiro-me à falta de opção que um trabalhador em Portugal tem. Um homem adulto com as capacidades físicas e intelectuais que tem, podia ser empregue num trabalho mais productivo. Não acredito que um país consiga satisfazer as necessitades da sua população só vendendo e comprando. Portugal não produz quase nada. Só compra e vende. Eu critico o sistema e não estas pessoas que tem que aceitar estes trabalhos mal pagos para sustentar as suas famílias. Sempe que chego a Portugal sou informada por familiares ou amigos que acabou-se de abrir novamente um novo centro comercial e que pelos vistos deve ser um dos maiores da Europa.

    Aqui a resposta à sua pergunta: na Alemanha trabalham-se entre 35 a 40 horas por semana. Na indústria metalúrgica, por exemplo, trabalha-se 35 horas por semana.

    Os seus comentários nunca são longos demais, gosto da sua critica. Mais uma vez obrigado por ter passado por aqui. Desejo-lhe uma boa noite e até breve. Sou uma jovem de 50 anos!

    Cumprimentos - Isabel

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  4. Boa noite Maria, eu ficaria em Portugal e lutava pelos direitos dos trabalhadores, se tivesse capital suficiente para criar, pro exemplo, postos de trabalho dignos, mas como não é este o caso, pouco adiantaria eu ficar em Portugal. Entdende?

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  5. Em Portugal a Incompetência é muito bem paga...

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